Blog do Oríosè: ENTRE ORIXÁS E SANTOS NASCE UM YAWO

ENTRE ORIXÁS E SANTOS NASCE UM YAWO

 

ENTRE  ORIXÁS E SANTOS  NASCE UM YAWO
Rômulo Leite Amorim
Graduando em Ciências Sociais, UFCG

No inicio da disciplina métodos II, nos foi recomendado que fosse escolhido algum objeto para ser
etnográfado. daí escolhi o terreiro “Ilê axe Iemanjá Oba Omi” dirigido pelo “Pai Walter”, que é fundador e
próprietario desta casa de axe, conforme disse ele em conversa. No entanto o que me chamou atenção
naquele ritual foi verificar as pessoas que dançavam na roda também serem participantes das celebrações
Eucarísticas no domingo e em outros dias. Assim, a obsevação desta perpectiva religiosa passou a ser
percebida desta maneira: “Um sistema de símbolos que atua para estabelecer poderosas, penetrantes e
duradouras disposições e motivações nos homens, através da formulação de conceitos, com tal aura de
fatualidade que as disposições e motivações parecem singularmente realistas”. (Geertz:1978,103-104)
Nesta etnografia buscamos perceber quais os motivos que levam alguns adeptos do candonblé a
também participarem das missas dominicais, visto que são dois cultos que tem fé dispares, e que em tese um
deveria negar um ao outro, algo que não acontece com estas pessoas que frequentam o culto cristão e o culto
do candomblé, desta forma buscamos aporte em Hall que diz: “As sociedades modernas são, portanto, por
definição, sociedades de mudança constante, rápida e permanente”.(2006,p.14)
Os estudos antropológicos buscam analisar e compreender como o homem durante sua vida,  elabora
seu próprio estilo de sobrevivência, seus costumes, desenvolvendo e transformando sua cultura, criando e
resignificando espaços de acordo com o modo de vida em que estão estabelecidos.
Desta maneira, percebe-se que o estudo da religião adquiri importância pois mobiliza dezenas de
cientistas, no campo da sociológia, da história, da antropológia e etc, que visam através de suas teorias
analisar o fenômeno religioso sob diversos aspectos.
Os estudos sobre o candomblé não são raros, diversos são os trabalhos que tem como objeto de estudo
esta religião afro-brasileira nascida no período colonial e que sobreviveu a perseguição religiosa imposta
pelas autoridades civís e religiosas que dominavam  Brasil neste período, meados do século XVI ao século
XIX.
Nesta perspectiva, a etnografia coloca-se como um instrumento bastante utilizado para demonstrar os
aspectos do objeto em estudo, que contribuem para o entendimento sobre o que esta sendo alvo de
investigação etnografica.
O candomblé é uma religião afro-brasileira que surgiu no Brasil em meados do período colonial, entre
os séculos XVI e XIX, e de forma mais precisa a partir do intenso processo de imigração forçada dos
africanos, que foram trazidos para o país como escravos para se tornarem mão-de-obra, entre os africanos
escravizados estavam vários sacerdotes que trouxeram consigo suas crenças. “Portanto, a regilião e cultura
afro-brasileira e negro-africana refletem essa visão integradora, fundada na preocupação básica do ser que
busca a harmonia, o ajuste do ser humano como universo visível e invisível”(SANTOS:1997. p.19)No entanto, devido a presença marcante do cristianismo católico, os rituais e crenças dos africanos
foram proibidos, pois não se concebia que nenhum outro tipo de culto diferente do católico fosse praticado,
no Brasil durante este período, havendo somente uma abertura oficial a prática de outros cultos com a
Proclamação da República no fim do século XIX.
Para o Brasil vieram africanos de diversas nações ou etnias, tais como Angola, Benguela, Mina,
Courana, Nagô, entre outras, que são percebidas a partir dos nomes dos escravos traficados para cá. Tais
africanos ao chegarem no Brasil, começaram a reconstruir suas vidas, mesmo como escravos, buscando
revigorar suas raízes, culturais, religiosas e etc.
Desta maneira, ao se tornarem moradores das senzalas, os negros buscaram cultuar seus Orixás, e para
isso utilizaram da camuflagem, enganando seus senhores, pois ao edificar um altar com imagens de santos
católicos, estavam cultuando seus orixás, fato que não foi percebido pelos que os dominavam. Mesmo assim,
usando imagens e crucifixos inspiravam perseguições por autoridades e pela Igreja, que viam o candomblé
como paganismo e bruxaria, coisa do dêmonio. É deste processo de mistura de elementos do cristianismo
com elementos das religiões afro-brasileiras, que os rituias das religiões afro-barsileras criam um sincretismo
bastante forte:
“A unidade na diversidade religiosa cultural afro-brasileira, está na concepção de Deus como origem, no
orixá como poder ou força cósmica, na concepção de Deus como parceiro, Deus e orixá que são também
parte da humanidade, humanidade, humanidade de Deus que implica na absoluta humildade do homem”.
(SANTOS: 1997, p.20)
Os templos de candomblé são chamados Terreiros. Estas casas podem ser dirigidas de forma
matriarcal, patriarcal ou mista. Normalmente são casas pequenas que são independentes, possuídas e
administradas pelo babalorixá(homem) ou iyalorixá(mulher) dono da casa e pelo Orixá principal
respectivamente. O terreiro visitado é dirigindo por um Pai de santo, conhecido por “Pai Walter”, que foi o
principal interlocutor da etnografia.
Esta casa segundo “Pai Walter” tem ligação com a nação Nagô-Egbá, que tem por costume terem em
seus terreiros um babalorixá e uma iyalorixá, ou seja, um pai e uma mãe-de-santo, a mãe de santo, neste
terreiro, é a mãe consanguinea do “Pai Walter”. Este me falou que um terreiro só fecha as portas, deixa de
existir quando ocorre o falecimento do dono, e não há a sucessão, que na maioria das vezes é feita pelos
filhos consanguineos, caso não tenha um sucessor interessado em continuar a casa é desativada e seus
membros podem ser acolhidos em outros terreiros.
Quando se dá a morte de um membro do terreiro, é realizado um ritual de despacho dos seus objetos,
como roupas, instrumentos utilizados durante os rituais.
Buscando perceber como os indivíduos passam a frequentar o terreiro o “pai Walter” então, passou a
relatar que começou a frequentar o terreiro ainda jovem, quando começou a receber espíritos. Algo curioso,
segundo ele, pois, aquilo não poderia acontecer já que o mesmo não acreditava nesta coisas, além disso como
poderia uma  pessoa com fé católica receber espíritos, neste período jovem Walter, era católico e participava
ativamente das ações desenvolvidas na “Paróquia Nossa Senhora do Rosário” no bairro da prata, nesta cidade
de Campina Grande, na época estava sendo “coroinha” ajundante de missa.Sua primeira visita a um terreiro se deu quando acompanhou sua mãe, que era cabo eleitoral no período
de eleição, depois de visitar várias casas, chegaram a um terreiro, conhecido com o “xangô”,  que ficava na
Bela Vista, bairro vizinho ao seu.  Depois disso, segundo ele sua mediunidade começou a aparecer, com
bastante força. Ele lembrou que na primeira vez que incorporou um espírito, estava no colégio Estadual da
Prata, local onde estudava, conforme relato de seus amigos de turma, ele ficou estranho, agressivo e sem
reconhecer ninguém, depois começou a se debater no chão, rasgando quase toda roupa, foi quando foi se
acalmando, então os colegas e professores o levaram para casa:
“As sociedades da modernidade tardia, arumenta ele, são caracterizadas pela “diferença”; elas são
atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que produzem uma variedade de diferentes
“posições de sujeito” - isto é, identidades – para os indivíduos”.(HALL:2006, p.17)
Outra vez que incorporou e marcou sua vida, foi durante a celebração de uma missa, na Igreja do
Rosário, quando o mesmo ajudava na celebração. Ele relatou que estava com o turibulo, incessando o altar,
quando de repente, incorporou o espírito, que gostava de incenso, após, ao voltar a sí, já estava em casa. Foi
neste momento que sua mãe, percebeu o que estava acontecedo e o levou ao terreiro que outrora tinham
visitado, na época da eleição.
A partir daquele momento, o pai de santo disse que ele deveria sempre frenquentar o terreiro, foi
quando tornous-se um Yawo, filhos de santo já iniciado, pois sua mediunidade estava bastante forte e que não
poderia tentar acabar com aquilo. “Pai Walter” fala que tentou resistir aquilo, procurou o Padre de sua
paróquia e confessou o que estava acontecendo, recebendo do padre o conselho para que não acreditasse
naquilo ou escolhesse o que iria seguir. Ele falou que no começo ajudava na missa da manhã e a tarde
escondido do pai, ia para o “xangô”, depois, foi deixando de ir as missas, e quando seu pai descobriu, este
lhe deu uma surra. Tal surra lhe fez optar de vez pelo candomblé, deixou a casa de seus pais e foi morar no
terreiro, onde se dedicou aprender sobre a religião, se tornando após sete anos, “pai de
santo”.(VIALLE:1985, p. 24)
Ao torna-se “pai de santo”, sacerdote de orixás, “pai Walter” se mudou para o bairro de José Pinheiro,
no qual fundou sua casa de axe, o terreiro Ilê Axe Iemanjá Oba Omi que fica localizado na rua Rubens
Saldanha s/n, José Pinheiro, em Campina Grande.
“Mais importantes são as transformações do tempo e do espaço e o que ele chama de “desalojamento do
sistema social” - a “extração” das relações sociais dos contextos locais de interação e sua reestruturação ao
longo de escalas indefinidas de espaço-tempo”.(HALL:2006,p.15)
Nas religiões afro-brasileiras, segundo “pai Walter” o sacerdócio é dividido em: Babalorixá ou
Iyalorixá, que tem alguns auxiliares: o babalaxé ou Iyalaxé, após 25 anos o pai de santo torna-se Tatalorixá e
com cinquenta anos Vodum. Os jovens que são iniciantes são denomindos de Abian, depois torna-se Iaô
quando se torna santo, chegando assim, a Babalorixá. Vale salientar que os rituais são eventos que acontecem
de 8 em 8 dias, sendo um dia para os orixás e outro para jurema, contudo, realiza-se também quando a festa
de um orixá. Estes rituais ocorrem sempre às 20:00horas, todas as quartas-feiras.
O terreiro ocupa o espaço de uma casa popular, contudo, com espaços definidos para a celebração de
seus rituais. A casa é toda pintada de branco.É composto por um terraço, que contém um pequeno quarto destinado a Exu, orixá guardião dos
templos e das casas, segundo “pai Walter” este orixá faz atos para o bem e para o mal. Ainda nesta parte
existe dependurada na porta uma ferradura e uma figa que serve para quebrar as mandigas, feitiços. Além, de
possuir uma inscrição na parede que diz: “Aos visitantes Deus dê em dobro tudo aquilo que me desejares”.
Possui algumas cadeiras e vasos com plantas.
O segundo pavimento é o local onde se realiza os cultos(do candomblé e da Jurema). Segundo “pai
Walter” estes são cultos distintos, não tendo nada em comum, a não ser o local em que são celebrados. É um
espaço bastante ventilado, com três janelas, que também o torna bastante claro, poucos móveis há neste, dois
bancos de madeira pintados de branco e quatro cadeiras, e um existe também uma pequena mesa na qual o
“pai Walter” faz as consultas tendo por cima algumas cartas, uns búzios e alguns colares coloridos,
representando os orixás. Nas paredes existem alguns quadros com fotos de orixás e cablocos, vasos para
colocar plantas e dois cifres de boi, e no teto esta pedurada uma figa, objetos que servem para quebrar as
mandigas, mau olhado e feitiços. Ao fundo está o local onde ficam sentados os dois tocadores de Elu,
tambores usados na família Nagô, estes tocadores são chamados de ogans.
Durante os rituais são utilizados outros instrumentos músicais, como o afoxe, o abê e o agogô.  No
chão, bem no meio há uma pedra, que é retirada uma vez por ano, para que seja dadas as oferendas, durante
os rituais as danças são realizadas em torno desta, no sentido anti-horário, que segundo “pai Walter” é dela
que sai a energia, a força para realização dos rituais. Neste segundo pavimento estão outros três quartos, o
denominado de Rocol destinado aos orixás, conforme dito acima, outro destinado ao culto da jurema e
cablocos, econstado na porta tem um pilão de madeira, e o terceiro destinado a alebará(pomba gira), em cada
um destes se encontra tudo que pertence aos rituias de cada espírito.
O restante da casa é o local destinado a morada do “pai Walter” e de duas pessoas que moram com ele,
dois filhos de santo. Possuíndo sala de estar, cozinha, banheiro, sala para refeições e quintal.
Casa de candomblé, culto dos orixás - Os Orixás, são os “santos” cultuados pelo candomblé, e que não tem
nada haver com os chamados santos católicos, segundo “pai Walter”. Estes orixás tem personalidade,
habilidades e preferências individuais. Seus ritos são próprios, bem como o uso de objetos e roupas. Estes
orixás representam um fenômeno natural específico.
Desta maneira, no terreiro Ilê Axe Iemanjá Oba Omi o culto aos orixás se realizam atraíndo vários
filhos de santo. Que devem realizar suas obrigações a cada orixá. O “pai Walter” me mostrou o ambiente
reservado aos orixás, nele estão todos os objetos utilizados durante os rituais(para cada orixá existe uma cor e
seus pertences) que cada membro utiliza para fazer suas obrigações.
As pessoas que tornam-se membros do candomblé, segundo “pai Walter” é escolhida no nascimento
por um ou vários "patronos" Orixás, que um babalorixá identificará durante o ritual.  Estas pessoas estaram
ligadas ao orixá ate sua morte, devendo fazer seus ritos de forma que agrade a ele. Alguns Orixás são
"incorporados" por pessoas iniciadas durante o ritual do candomblé, outros Orixás não, apenas são cultuados
em árvores pela coletividade.
Como o terreiro é ligado a nação Nagô-Egbá, que segue a tradição Yoruba, “pai Walter” falou queestes tem rituais que diferem de outras nações desta forma os orixás recebem nomes diferentes, assim, neste
terreiro Ilê Axe Iemanjá Oba Omi são cultuados os seguintes orixás:
Desta maneira, Olorun é o deus supremo do povo Yoruba, que criou as divindades chamadas
(português Orixá), segundo “pai Walter” é o mesmo Deus dos cristãos, perbemos assim, a presença do
sincretismo. Existindo os orixás do Irun Imole que são do Orun (céu)  e os orixás do Igbá Imole que são do
Aiye (Terra), assim:
“Oxalá, Orixá do branco, da Paz, da Fé, por isso os santos se vestem de branco na sexta-feira.
Exu, orixá guardião dos templos, casas, cidades e das pessoas.
Ogum, orixá do ferro, guerra.
Oxóssi, orixá da caça e da fartura.
Logunedé, orixá jovem da caça e da pesca
Xangô, orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
Xapanã (Obaluaiyê/Omolu), Orixá das doenças epidérmicas e pragas.
Oxumarê, orixá da chuva e do arco-íris.
Ossaim, orixá das ervas medicinais e seus segredos curativos.
Oyá ou Iansã, orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestade, e do Rio Niger
Oxum, orixá feminino dos rios, do ouro e amor.
Iemanjá ou Yemanjá, orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade.
Nanã, orixá feminino das águas das chuvas, dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiyê, considerada
avó de todos os orixás.
Yewá, orixá feminino do rio Yewa, senhora da vidência, a virgem caçadora.
Ibeji, orixás gêmeos, das crianças.
Iroko, orixá da árvore sagrada (conhecida como gameleira branca no Brasil).
Egungun, ancestral cultuado após a morte em casas separadas dos Orixás.
Onilé, orixá relacionado ao culto da terra.
OrixaNlá (Oxalá) ou Obatalá, o mais respeitado orixá, Pai de todos os Orixás e dos seres humanos.
Ifá ou Orunmila-Ifa, orixá da Adivinhação e do destino.
Odudua, orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.
Oranian, orixá filho mais novo de Odudua.
Baiani, orixá também chamado Dadá Ajaká.
Olokun, orixá divindade do mar.
Olossá, orixá dos lagos e lagoas
Oxalufon, orixá velho e sábio.
Oxaguian, orixá jovem e guerreiro.
Orixá Oko, orixá da agricultura”.
(VIALLE: 1985, p.9)
O culto à Jurema - Conforme dito acima, este culto é distinto e não tem nada haver com o candomblé.Ocorre no mesmo espaço, no entanto, o quarto destinado aos orixás fica fechado, o mesmo ocorrendo com os
demais quartos quando há candomblé.
Caboclos e orixás são tratados nos candomblés como espíritos de naturezas diferentes, com aspectos
que os distinguem e que são importantes na relação que se estabelece entre cada um deles e os indíviduos que
os incorpora.
Os caboclos gostam de conversar, todo caboclo é conversador, podendo assumir uma feição simpática
ou fechado, amigável ou arredio, irreverente realizando brincadeiras com as pessoas, enquanto este ve
incorporado “Zé Pretinho” falou que gostava de fazer brincadeiras com as pessoas ou reservado, mas é
sempre falador. Assim, os caboclos dizem o que estão querendo sem nenhuma mediação, mas estabelece uma
relação com os indíviduos de forma direta.
No culto da jurema, os membros cultuam um troco da arvóre de jurema, desta arvóre também são
retirados alguns pedaços para que seja feita a bebida, neste dançam para homenagear os antepassados e os
mestres antigos. Nos rituais a presença de cachimbos, maracás e aguardentes, que deixa o ritual mais alegre e
festivo, fazendo com que os membros se alegrem mais ainda naquele momento.
O ritual da jurema se inicia com uma canto, em português, que é recitado inicialmente pelo “pai
Walter”, que utiliza um chocalho e é seguindo pelos demais membros que estão em posição de roda, já em
posição de dançar, desta maneira o “pai Walter” faz uma incensação no quarto da jurema, e depois adentra na
roda, enquanto o babalaxé faz a incensação, purificando as pessoas e o ambiente, enquanto os demais vão
dançando e cantando. Os bancos são destinados aos visitantes, que vão observar o ritual.
Aos caboclos canta-se músicas em português. Estas lembram alguns aspectos da vida cotidiana das
pessoas, com expressões e termos conhecidos do catolicismo e do imaginário popular. Transformando-se em
um culto bem característico do jeito brasileiro.
Várias músicas são entoadas cada uma com significado próprio e destinado a jurema ou aos cablocos,
que vão sendo incorporados durante o ritual. Os ogans ficam tocando durante quase todo ritual, parando
somente quando os espíritos incorporados falam alguma coisa, outras pessoas tocam maracás e chocalhos,
enquanto outras dançam na roda. Neste dia em que acompanhei o ritual, havia duas mulheres que estavam
voltando ao terreiro, eram filhas de santo e tinha abandonado em nome de outra fé, a cristã protestante, outros
dois homens dançavam fora da roda.
A roda de dança era composta por três homens e um menino e seis mulheres, suas vestimentas são a
caráter, todas usam saia e os homens roupas normais, coloridas, contudo, o número das pessoas na roda para
dançar podem aumentar ou diminuir de acordo com os presentes, segundo “pai Walter”.
Observei algumas pessoas que receberam os espíritos enquanto outras não, segundo “pai Walter” estás
não estão preparadas ou não quiseram receber os espíritos. O toque de caboclo são celebrações públicas
periódicas, em que os caboclos vêm para "trabalhar", dar consulta aos que precisam de ajuda, oferecem
conforto aos necessitados. Suas festas são celebrações públicas, geralmente anuais, em que os caboclos vêm
para ser homenageado, dançam e convivem com os indíviduos. Os caboclos gostam de fumar cachibos ebebem bebidas alcoólicas (cerveja, vinho e a bebida ritual jurema), que costumam compartilhar com os que
fazem parte daquele ritual.
Num primeiro instante do ritual os espíritos começam a ser incorporados, uma senhora começa a
dançar mais devagar, retira o leço da cabeça, faz reverência no pavimento reservado aos cablocos e a jurema,
e dança, saem sem falar nada, depois outra mulher também incorpora outro espírito,  esta fica dançando e
dando uns pequenos gritos, depois de um certo momento os dois espíritos incorporados fazem uma saudação
ao “pai Walter”, abraçando-lhe ou ajoelhando-se diante dele,  passados uns 15 minutos os dois espirítos vão
embora. Ai começa a cantar outro canto, depois de uns  10 minutos outros dois começam a incorporar, é a
“mãe-preta e o “pai-velho”, estes dois ficam no meio da roda sentados em pequenos taburetes, com cachibos,
segurando ambos uma bengala, fazem movementos suaves com seus corpos, as pessoas vão ate eles e
recebem o “passe” espécie de reza, estão perto deles um copo com água e uma vela acesa.
Depois é cantada uma música que significa a retirada dos espiritos, ai, os dois se estremessem vão ate o
pavimento e retornam para roda, enquanto isso o babalaxé, pega um copo de água e vai jogar na rua,
enquanto isso todos se viram para a porta e fazem um gesto de expulsar algo, de si em direção a porta. Ai, a
dança recomeça e eles invocam o “mestre” que é incoporado pelo “pai Walter” depois de umas três músicas
de invocação, o “pai Walter” começar a dançar diferente, quase que caíndo, ai é conduzido ate o pavimento
dos cablocos e jurema, e incorpora “Zé Pretinho”, este possui um laço vermelho no pescôço, uma faca na
cintura, segura uma garrafa de cana e começa  dançar todos fica de lado, enquanto o “mestre” dança,
conversa no meio do salão. Passados uns 30 minutos começa a cantar para que o mestre vá embora, ai, o “pai
Walter” é conduzido ate o pavimento, chegando lá da uns dois pulos para trás e o espírito vai embora.
Ainda, o “pai Walter” se dirige cantando para o pavimento destinado a pomba-gira e incorpora esta, dá
uns gritos fortes la dentro depois sai, com alguns aderessos de panos enrrolados na cintura, na cor vermelho e
amarelo, bebe cerveja, whisky, fica com mão na cintura e dança, além disso conversa e oferece bebida as
pessoas não só aos membros mas também aos convidados, durante isto vários cantos são entoados, quando a
pomba-gira, que segundo o “pai Walter” são espíritos femininos de mulheres que eram prostitutas,
abandonadas, quando ela esta indo embora eles cantam: “Vem pomba-gira, Vem ver quem te chama Mas ela
é mulher defasada, Ela é pomba-gira, Das sete encruzilhadas”, ai o “pai Walter” se dirigi para o pavimento da
pomba-gira e dá uns gritos fortes e o espírito vai embora, ele volta para o salão e começa a dançar, percebe-se
que  ele esta bem cansado, depois destas incorporações. A dança de roda continua, eles vão terminando o
ritual, no final, para de tocar e dançar e todos recitam juntos uma oração dirigida a Deus, agradecendo e
pedido benção par todos, termina o ritula da jurema.
Em outra visita que fiz ao terreiro no dia do culto a Jurema, além do que já relatei acima, houve neste
dia uma intronização solene da jurema, tronco de árvore que possuí o mesmo nome, e que também se chama
a bebida usada por eles. A jurema é concebida como uma espécie de divindade sagrada, capaz de ligar o
mundo terreno ao espiritual. Acredita-se que ela dá sabedoria, força, vitalidade, proteção e cura aos que dela
se aproximam. Este ritual foi dirigindo pelo espírito incorporado do mestre “Zé Pretinho”. Este espírito bebe
bebidas alcoolicas, fuma cachibo, dança e conversa com as pessoas. O tronco da jurema esta dentro de umavasilha de vidro, que contém fumo e que também se coloca a bebida para a jurema. Neste ritual de
intronização da jurema, “Ze Pretinho” mandou que fosse colocado em cima da pedra no meio do salão
algumas folhas de catingueira, depois foi no pavimento destinado a jurema e aos cablocos, pegou o
recepiente que estava o tronco e saiu de costas cantando, os demais membros ergueram a mão para a jurema e
cantavam, “Zé Pretinho” saiu até a rua e todos o seguiram, depois voltou e colocou o tronco em cima das
folhas que tinha sido colocadas, depois derramou agaurdente de cana na jurema, vinho, assoprou fumaça do
cachibo no tronco e os demais continuavam a dançar em volta cantando. Segundo “pai Walter” existe uma
corrente de 27 “Zes” no culto da Jurema: Zé Pretinho, Zé das encruziladas e etc.
Neste dia conversei com alguns membros, que falaram brevemente sobre sua participação no
candomblé e da jurema, talvez por receio. Preguntei há quanto tempo frequentavam, um senhora me falou
que já fazia 42 anos, o nome dela é Lourdes que é mãe do “pai Walter”. Interroguei perguntando se ela ainda
participava des celebrações católicas, e ela falou que si, e que não via nenhuma incompatibilidade entre os
dois cultos, pois tratavam de Deus. Conversei também com outro filho de santo de vulgo “Bira”, ele falou
que não tem nada que os membros participem de missas nem do candomblé. Segundo este os membros do
candomblé devem se batizar, fazer primeira comunhão, também celebram missas na intenção dos falecidos e
etc. Ele me falou que isso era tradicional que vinha desde os antepassados.
Durante as visitas ao terreiro pude perceber o respeito que os membros possuem pelos visitantes e sua
acolhida, além da tolerância religiosa com as pessoas de outras religiões.
  Na observação do ritual da jurema, percebi que nem todos os filhos da casa têm caboclo, não
incoporam este espírito, mas estão ali para receber suas orientações.
Desta maneira, concebí que o ritual da jurema é uma profusão de danças, em que os caboclos vão
fazendo suas passagens. Os ritmos tocados estão muito próximos do samba da música são alegres e
contagiam quqalquer pessoa. Os espíritos puxam suas canções que são repetidas pelos adeptos e
simpatizantes.
Assim, pelo que observei e conversei com algumas pessoas que frequentam o ritual, não há para estes
incompatibilidade em participar dos toques, nem do candomblé e participar dos rituais católicos, pois percebi
que eles tentam complementar um ritual com outro, ainda que para muitos indíviduos isto seja algo
incompreensível, como foi para mim num primeiro olhar. No entanto, comecei a perceber que as pessoas
estão com esta dupla identidade religiosa baseadas no principio de que estão encontrando Deus tanto no
candomblé, no ritual da jurema, como na celebração da missa. Estão em busca do bem.

Fonte: http://www.anpuhpb.org/

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