Blog do Oríosè: novembro 2012

DOCUMENTÁRIO: Um vento sagrado - Prof. Agenor Miranda

Documentário: Um Vento Sagrado - 2001

Título: Um Vento Sagrado

Gênero: Documentário
Lançamento: 2001
Duração: 93 min
Direção: Walter Pinto Lima
Texto: Ildázio Tavares
Narração: Othon Bastos
Realização: Governo da Bahia através do Faz Cultura
Participação: Gilberto Gil, Muniz Sodré (sociólogo), Reginaldo Prandi, Antonio Olinto, Alessandra Negrine, Camila Amado, Bel Kutner, Fernando Pinto, Ingrid Guimarães








INFO:
A História a visão e os relatos de Agenor Miranda Rocha - Figura suprema do Candomblé no Brasil. A Colonização e Escravidão, a reunião de dois continentes a muito tempo separados, a Religião africana e o culto aos antepassados, A Ética e a essência do Candomblé, O Amor aos Orixás, a vaidade e o cuidar dos outros, A posição perante os sacrifícios e matanças de animais, Agenor e sua amizade com Cecília Meireles.
Anisio Teixiera e sua posse na direção do INEP, Metodologia de ensino e Reforma Pedagógica proposta por Anisio e abordada por Agenor.
Agenor públicou os livros "Poemas Infantis", em 1999, e "Oferenda - como a flor que se oculta entre as folhas", em 1998 e alguns poemas são recitados. Imagens e cenas históricas de Salvador e do Rio de Janeiro, de terreiros de festas, das cidades são mostradas. Roteiro poético, documentário exclente como fonte de pesquisa sobre o Candomblé.































parte 1



parte 2





Os orixás na África


ORIXÁS (ÒRÌSÀ)

Os orixás na África (Trecho extraído do livro: Orixas - Pierre Verger)

O termo “Órísà” nos parecera outrora relativamente simples, da maneira como era definido nas obras
de alguns autores que se copiaram uns aos outros sem grande discernimento, na segunda metade do
século passado e nas primeiras décadas deste. Porém, estudando o assunto com mais profundidade,
constatamos que sua natureza é mais complexa. Léo Frabenius é o primeiro a declarar, em 1910, que
a religião dos iorubás tal como se apresenta atualmente só gradativamente tornou-se homogênea. Sua
uniformidade é o resultado de adaptações e amálgamas progressivos de crenças vindas de várias
direções. Atualmente, setenta anos depois, ainda não há, em todos os pontos do território chamado
Iorubá, um panteão dos orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As variações locais demonstram
que certos orixás, que ocupam uma posição dominante em alguns lugares, estão totalmente ausentes
em outros. O culto de Xangô, que ocupa o primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexistente em Ifé,
on de um deus local, Oramfé, está em seu lugar com o poder do travão. Oxum, cujo culto é muito
marcante na região de Ijexá, é totalmente ausente na região de Egbá. Iemanjá, que é soberana na
região de Egbá, não é sequer conhecida da região de Ijexá. A posição de todos estes orixás é
profundamente dependente da história da cidade onde figuram como protetores Xangô era, em vida, o
terceiro rei de Oyó. Oxum, em Oxogbô, fez um pacto com Larô, o fundador da dinastia dos reis
locais, e em conseqüência a água nessa região é sempre abundante. Odudua, fundador da cidade de
Ifé, cujos filhos tornaram-se reis das outras cidades iorubás, conservou um caráter mais histórico e até
mesmo mais político que divino. Veremos mais adiante que as pessoas encarregadas de evocar
Odudua não entram em transe, o que destaca seu caráter temporal.
O lugar ocupado na organização social pelo orixá pode ser muito diferente se trata de uma cidade
onde se ergue um palácio real, àáfin, ocupado por um rei, aládé, tendo direito a usar uma coroa, adé,
com franjas de pérolas, ocultando-lhe a face ou onde existe um palácio, ilê lójá, a casa do senhor do
mercado de uma cidade cujo chefe é um bal `que sé tem direito a uma coroa mais modesta chamada
àkòró. Nesses dois casos, o orixá contribui para reforçar o poder do rei ou do chefe. Esse orixá está
praticamente à sua disposição para garantir e defender a estabilidade e a continuidade da dinastia e a
proteção de seus súditos. Mas, nas aldeias independentes, onde o poder civil permaneceu fraco, na
ausência do Estado (autoritário), o impacto das religiões tradicionais é muito forte na sociedade e são
os chefes ‘fetichista’ que garantem a coesão social.
Alguns orixás constituem o objeto de um culto que abrange quase todo o conjunto dos territórios
iorubás, como, por exemplo, Òrì àálá, também chamado bàtálá, divindade da criação, estende-se até
o vizinho território do Daomé, onde Òrì àálá torna-se Lisa, e cuja mulher Yemowo tornou-se Mawu,
o “ deus supremo” entre os fun, ou então Ògún, deus dos ferreiros e de todos aqueles que trabalham
com o ferro, cuja importância das funções ultrapassa o quadro familiar de origem.
Algumas divindades reivindicam as mesmas atribuições em lugares diferentes àngó, em oyó;
ramfè, em Ifé; Aira, em savé. São todos senhores do travão. Ògún tem competidores, guerreiros e
caçadores em diversos lugares, tais como: Ija em torno de Oyó, Ò óò i em Kêto, Òr em Ifé, assim
como Lógunéde, Ibùalám e Erinlè na região de Ijexá. sanyìn entre os oyó desempenha o mesmo
papel de curandeiro que Elésije em Ifé. Aje aluga em Ifé e Òsúmáré mais a oeste são divindades da
riqueza.
O caso de Nana Buruku ou Brukung merece ser tratado à parte. Esta divindade representa a deusa
suprema nas regiões a oeste dos países iorubás, e mesmo além, onde a influência de Ifé é menor,
embora, paradoxalmente, uma parte dessas populações seja chamada Aná ou Ifè, e isso em lugares
onde o culto de Òbàtálá ou Òrì àálá é totalmente desconhecido.
Diante dessa extrema diversidade e dessas inúmeras variações de coexistência entre os orixás, fica-se
descrente diante de certas concepções demasiado estruturadas.
A religião dos orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um mesmo
antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em princípio, um ancestral divizado,
que, em vida, estabelecera vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza,
como o travão, o vento, as águas dioces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a possibilidade de
exercer certas atividades como a caça, o trabalho com metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento
das propriedades das plantas e de sua utilização o poder, à , do ancestral-orixá teria, após a sua
morte, a faculdade de encarnar-se momentaneamente em um de seus descendentes durante um
fenômeno de possessão por ele provocada.
A passagem da vida terrestre à condição de orixá desses seres excepcionais, possuidores de um às
poderoso, produz-se em geral em um momento de paixão, cujas lendas conservaram a lembrança.
Veremos, numa lenda, como àngó tornou-se o objeto dessa mutação quando um dia, exasperado por
ter destruído seu palácio e todos os seus, subiu a uma colina em Igbeti, perto da antiga Oyó, e quis
experimentar a eficácia de um preparado destinado a provocar o raio. Em Outra lenda, àngó tornouse
orixá, ou b ra, em um momento de contrariedade por se sentir abandonado, quando deixou Oyó
para retornar à região de Tapa. Somente sua primeira mulher, Oiá, o acompanha na fuga e, por sua
vez, ela entrou para debaixo da terra depois do desaparecimento de àngó. Sua duas outras mulheres,
Ò un e Òbà, tornaram-se rios, que têm seus nomes, quando fugiram aterrorizadas pela fulgurante
cólera do marido comum. Ògún ter-se-ia tornado orixá quando compreendeu, lamentando
amargamente, que acabava de massacrar, em um momento de cólera irrefletida, os habitantes da
cidade de Ire, fundada por ele e que não mais a reconhecera quando ali voltou, após longa ausência.
Esses antepassados divinizados não morreriam de morte natural, morte que em iorubá vem a ser o
abandono do corpo, ara, pelo sopro, èmí. Possuidores de um à e, poder em estado de energia pura.Era
preciso,para que o culto pudesse ser criado, que, assim como os M gba de àngó de que trataremos
mais adiante, um ou vários membros da família tivesse sido capaz de estabelecer o Odù Òrì à,
definido por O.Epega como sendo “ um vaso enterrado no chão, até mais ou menos três quartos de sua
altura, pelos seus adeptos” . Ele serve de recipiente ao objeto suporte da força, o à do Òrì à. Este
objeto suporte é, segundo Cossard-Binon, “ a base material palpável, estabelecida pelo arixá, que
receberá a oferenda e será impregnada pelo sangue do animal sacrificado. Devidamente sacrificado,
será o traço de união entre os homens e a divindade” . A natureza desses objetos está ligada ao caráter
do deus, quer por ser dele uma emanação como a pedra do raio, èdùn ara, de àngó, ou um seixo do
fundo de um riacho, ta, de Ò un, ya ou yem já, quer seja um símbolo, como as ferramentas de
Ògún ou o arco e a flecha de Òsóòsì.
O orixá é uma força pura, àse imaterial que só se torna perceptível aos seres humanos incorporando-se
em um deles. Esse ser escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é chamado seu elégùn, aquele
que tem o, privilégio de ser “montado” , gùn, por ele. Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar a
terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram.
Os elégùn muitas vezes são chamados iyawóòrì à (iaô), mulher do orixá. Este termo tanto se aplica
aos homens quanto às mulheres e não evoca uma idéia de união ou de posse carnal, mas a de sujeição
e de dependência, como antigamente as mulheres o eram aos homens.
Voltaremos, mais adiante, ao problema da iniciação desses elégùn cujo papel è fundamental nas
cerimônias de adoração ao ancestral divinizado, que, incorporando-se ao elégùn, reencontra, por
alguns instantes, sua antiga personalidade espiritual e material. Será novamente a personagem de
outra com suas qualidades e seus defeitos, seus gostos, sua tendência, seu caráter agradável ou
agressivo.
Voltando assim, momentaneamente, a terra, entre seus descentes, durante as cerimônias de evocação,
os orixás dançam diante deles e com eles, recebem seus cumprimentos, “ ouvem as suas queixas,
aconselham, concedem graças, resolvem as suas desavenças e dão remédios para as suas dores e
consolo para os seus infortúnios. O mundo celeste não está distante, nem superior, e o crente podem
conversar diretamente com os deuses e aproveitar da sua benevolência” .
O tipo de relacionamento é de caráter familiar e informal. Um exemplo de uma cerimônia observada
na África ilustra bem esse fato. Trata-se de uma cerimônia para um vodun daomeano, Sapata,
chamado Ainon, o “ senhor da Terra” , sinônimo de ànpònná entre os iorubás, onde é igualmente de
balúayé, que também significa o “ Senhor da terra” . Esse culto de sapata não se afasta
completamente a esse deus falam uma língua sacra que é o iorubá arcaico dos Aná ou Ifé da região de
Atakpamê. Os futuros iniciados de sapata são chamados Anàgónu, os nagôs, nesse estágio de sua
iniciação.
Foi em dezembro de 1969, nos arredores de Abomey, em uma fazenda chamada Tètèpa, residência do
chefe de uma família relativamente numerosa, estabelecida nesse local há muitas gerações em tempo
normal, a fazenda era habitada principalmente por pessoas idosas, crianças confiadas a suas avós e um
número reduzido de adultos de ambos os sexos, indispensáveis aos trabalhos do campo. Em grande
parte, os membros da família exerciam suas atividades em local distante, para voltarem,
periodicamente, trazendo uma parte de seus ganhos para a comunidade familiar. Mas, no dia em que
passamos por essa fazenda, havia muita gente para assistir e participar de uma cerimônia organizada
para agradecer a Sapata Megban, protetor da família, uma graça que ele concedera nas seguintes
circunstâncias.
Três ou quatro anos antes, houve um acidente ferroviário quando dois trens se engavetaram. Houve
numerosos mortos e feridos. Uma mulher, pertencente à família do dono dessa fazenda, encontrava-se
em um dos vagões. Estava grávida e perto de dar à luz. O medo que ela sentiu no momento do
acidente fez com que a criança nascesse antes da hora. Em seu desespero, ela fez a promessa de
oferecer algo de belo ao Sapata da família se a criança e ela sobrevivessem ao desastre. Saíram ilesas
do acidente, e a criança desenvolveu-se normalmente. Tivemos a sorte de assistir ao pagamento da
promessa.
A jovem mulher oferecia naquele dia “ bela coisa” prometida. Era um belo pano um gorro bordado e
oferendas de animais e alimentos. Homens e mulheres, membros da família, vieram de todas as
regiões do Daomé onde trabalhavam, e até do Togo, da Costa do Marfim e da Nigéria. Sapata-Ainon,
encarnado em seu vodunsi (elégùn), estava majestosamente sentado em um trono, pois era também
chamado J b su, o “Rei das Pérolas” . Todos os membros da família estavam prostrados diante dele e
cantavam seus louvores tradicionais. O Vodunun, encarregado de cuidar do deus, fez um pequeno
discurso para lhe agradecer por ter salvo a vida da mulher e da criança e colocou no colo do vodunsi a
criança de três ou quatro anos de idade. Esta se aconchegou em seus braços como o teria feito nos
braços de seu avô. Inteiramente à vontade e sem nenhum receio, a criança brincava com as franjas da
roupa do deus encarnado. Essa cena nos tocou profundamente e nos pareceu muito representativa do
tipo das relações entre os homens e seu deus. Um deus protetor, cujas graças são reservadas, é
verdade, só ao grupo familiar. Mas estamos longe da imagem dos “ feiticeiros sanguinários” , reinando
pelo terror, que a literatura cristã esforçou-se em apresentar para justificar a ação evangélica dos
missionários.
Orixá, ancestral divinizado, é um bem de família, transmitido pela linhagem paterna. Os chefes das
grandes famílias, os balè, delegam geralmente a responsabilidade do culto ao orixá familiar, a um ou
uma aláà , guardião do poder do deus, que dele cuidam ajudados pelos elégùn, que serão possuídos
pelo orixá em certas circunstâncias.
As mulheres da família participam das cerimônias e podem se tornar elégùn do orixá da família
paterna; mas, se forem casadas, é o orixá da família de seu marido que será o de seus filhos. Elas têm
assim uma posição um pouco marginalizada na família do marido. São consideradas somente como
doadores de filhos, mas não são integradas completamente em seu novo lar. Quando morrem, seu
cadáver volta para a casa paterna, onde são enterradas. Mesmo em sua própria família, não têm
posição estável, compatível à dos homens. Esse ponto é ilustrado pela pergunta feita pelo pai para
saber qual o sexo de seu filho ao nascer: “ É o dono da casa (onílé) ou a estrangeira (àléiò)?” , situando,
desde sua chegada ao mundo, a posição relativa dos homens e das mulheres na família iorubá.
Conservando sua filiação ao culto do orixá familiar, pode acontecer que um indivíduo deva, por certas
razões que lhe são indicadas pela adivinhação, seguir o culto a uma outra divindade, a de sua mãe, por
exemplo, após a sua morte; ou de qualquer outra que lhe seja imposta em decorrência de certas
situações: doenças, dificuldades na procriação de um herdeiro, defesa contra uma ameaça precisa ou
imprecisa. Nesses casos, o indivíduo encontra-se implicado mais diretamente na prática desse culto
pessoal.
Uma das características da religião dos orixás é seu espírito de tolerância e a ausência de todo
proselitismo. Isso é compreensível e justificado pelo caráter restrito de cada um desses cultos aos
membros de certas famílias.

A Iniciação de Crianças nos Cultos Afro-brasileiros

 


A Iniciação de Crianças nos Cultos Afro-brasileiros

Em novembro do ano passado, zeladores de Candomblé, em parceria com o Jornal A Gaxéta promoveram um debate para discutir com advogados e interessados, a confusa situação da INICIAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES perante a Lei, e assim, perceber caminhos de como defender ou garantir o direito de iniciar e da participação de jovens, nos Cultos Afros.  

Os argumentos apresentados foram:

1- Necessidade de uma interferência espiritual em casos de urgência ou doenças;

2- A Liberdade e o direito dos pais de levarem seus filhos aos cultos de suas preferências;

“Eu tenho meu filho. Ele nunca participou literalmente de uma Casa de Axé. Agora, se meu filho participasse desde pequeno, o Culto dos Orixás seria natural para ele. E seria meu direito, levar meu filho para a minha religião, pois o evangélico leva, o católico leva, o judeu leva, desde criança. Por que nós não podemos?”, argumenta Mãe Angélica.

Para Pai Flávio, não há porquê de uma ‘marcação tão rigorosa’ dos Conselhos Tutelares, nos Terreiros, se as milhares crianças estão abandonadas na rua, principalmente na Cracolândia. “Os Conselhos Tutelares deveriam estar mais atentos às crianças e jovens e cumprir o real papel, para o qual foram criados”, diz Pai Flávio.

As explicações Jurídicas

– A Lei, perante as crianças e jovens, nos Terreiros.

Dra Fátima diz: “De acordo com o que me foi dito em nosso contato inicial, você estava precisando saber se existia alguma solução para a iniciação de crianças e adolescentes. Baseado nisso, eu cheguei até a conversar com o Dr. Sérgio Marrina, Juiz da Vara da Infância e Juventude, já que existe um confronto muito grande entre a casa de Candomblé e a Legislação, que segundo o magistrado não há nenhum caso de interferência dos conselhos tutelares em atos religiosos, na Vara da Criança e do Adolescente.

A gente tem o principio da liberdade religiosa. A Constituição Federal nos garante isso. Agora, nós encontramos alguns confrontos: Temos o problema do recolhimento. Essa criança tem que ficar incomunicável a não ser com pessoas da religião que podem ter contato com ela. Então se você tiver acesso à legislação, o artigo 148 (Código Penal) traduz esse recolhimento como cárcere privado, ou seja, já há um choque muito grande aí. Aparece um outro que menciona ‘Lesão Corporal’ (as curas que são feitas no Iyawo). Se você confrontar com a legislação, trata-se de uma lesão corporal – de natureza leve – mas é uma lesão corporal. Existe uma outra situação que pode ser atribuída ao Pai – de- Santo: onde tem três ou mais pessoas reunidas, pode-se interpretar como formação de quadrilha. 

E em uma cerimônia de feitura, há sempre três ou mais pessoas reunidas. Esse é um confronto que se apresenta entre a religião e a legislação, apesar da Constituição Federal garantir que todos têm liberdade religiosa. Se você tiver acesso ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), ele também te mostra esse confronto em determinados momentos. Porém, cita que é obrigação e dever de todo o pai trazer orientação educacional e também religiosa à criança (Art 82).

Nós começamos a encontrar alguns problemas a partir do artigo V (ECA), em que ele fala em violência, crueldade, opressão. Por exemplo, se uma mãe trás seu filho para ser iniciado no Culto Afro-Brasileiro, e o pai não pertence à religião e por isso entra com uma denúncia, será utilizado o artigo V, em decorrência das curas, falta de comunicação com a criança, que está ‘trancada’ dentro de um quarto. Percebe-se então que o ECA também se confronta com a religião.

Numa outra citação, o ECA menciona que a criança não pode adentrar hotéis, motéis ou estabelecimentos similares, se desacompanhado dos pais. Então se questiona: e se essa criança vier a ser recolhida com a mãe ou junto com o pai? Você pode entender então que estando o pai ou a mãe, ou ambos, em companhia de uma criança em sua iniciação, não haveria problema algum em se dar prosseguimento ao ato religioso. Esta pode ser a defesa para que a Casa Religiosa possa seguir. Ou na ausência dos pais, estes assinam uma autorização pormenorizada: nome dos pais, qualificação completa, o nome da Entidade, firma reconhecida das duas assinaturas. Isso evitaria que se sofresse uma denúncia? Não, não evitaria, porém, trata-se de uma defesa, de um documento comprobatório.

No caso de pais separados, se o responsável pela guarda da criança estiver acompanhando o momento religioso, não haveria problema também. No caso da criança estar acompanhada de um dos pais que não tenha a guarda, será necessária a permissão daquele que é o responsável por esta guarda.”

Ao ser indagada a respeito da autoridade dos Conselhos Tutelares ser superior a de Juízes no sentido de tomar uma decisão sobre interromper uma iniciação sob a alegação dos direitos da criança estarem sendo infringidos, Dra. Fátima afirmou que estes não tem esse poder, mas sim de encaminhar o caso, baseado em denúncia e constatação, ao juiz. Dr. Anivaldo alertou que, em caso de invasão de um Templo, por um Conselho Tutelar, no sentido de coibir ou interromper um ato religioso aplicado em uma criança ou adolescente, a situação deverá ser comunicada de imediato à Vara da Infância por aquele Conselho, pois caso não o faça, pode-se agir no sentido de dissolver este conselho.

Não existe, segundo Dra. Fátima, como evitar a denúncia, ou como evitar abertura de inquérito para investigar todo esse passo, mas existem defesas com base no ECA. “Hoje eu diria para quem quer recolher: peça uma autorização.” Ela elaborou um termo de autorização bem pormenorizado com o nome dos pais e sua qualificação (casado, solteiro, etc), RG, CPF, se o casal vive junto em um mesmo endereço, se não, o endereço de cada um. Deverá ser reconhecida firma, pois este documento permanecerá na casa. Deverão ser citados os dados da criança, o número do RG, já que em sua maioria, as mesmas já possuem este documento. Portanto os pais estarão autorizando o menor a participar da iniciação ao culto religioso “candomblé”, a ser realizado no (nome da casa), situado (endereço completo) pelo Sacerdote (nome completo), no período compreendido entre (citar datas de inicio e término), ou seja, X dias.

Dra. Fátima entende ser de extrema importância que o seguinte texto também seja incluído no termo: “Estamos cientes que durante o período acima mencionado, o menor deverá permanecer incomunicável com pessoas alheias à religião, autorizando inclusive o procedimento dos banhos, curas, respeitando-se assim a liturgia pertinente ao culto religioso.”

Conclusão: Não há parâmetros que impeçam objetivamente a iniciação de crianças e adolescentes.

Inibir a invasão por Polícia ou Conselho Tutelar, embasados em possíveis denúncias por parte da comunidade, pode não ser possível pelo repente da situação. Mas, caso a permanência do menor em recolhimento religioso, esteja devidamente autorizado, como anteriormente citado, medidas legais poderão ser adotadas pelo Líder Religioso, ou as partes que foram constrangidas. O que após discussão entre os presentes pareceu estar ocorrendo, é que, pelo fato de Delegados de Polícia e o próprio Conselho Tutelar terem o poder de inibir a população, os mesmos, adentram os locais religiosos, interrompem os atos, retiram a criança e não dão prosseguimento ao assunto, ou seja, têm o objetivo de inibir um ato sagrado, que não pode ser interrompido, baseado em denúncias, e que por sua vez são embasadas em preconceito e Intolerância Religiosa.

Através de diversas ocorrências que vem sendo observadas em diversas áreas do país, em que o Poder Público passa a inibir situações baseadas ou ligadas aos Cultos Afro-Brasileiros, percebe-se claramente que a própria lei, estatutos, regimentos e outros, nunca tiveram em sua redação, itens que fossem favoráveis a Religiosos Afro-Brasileiros. Um exemplo bastante presente é o próprio ECA, que possui itens que, se chocam com os procedimentos ligados à iniciação de crianças nos Cultos Afro, como citado acima.

Documentário Tambores d'Africa

 

Documentário Tambores d'Africa

Ori - O Orixá mais Importante


Ori
O Orixá mais Importante




Ko sí Òòsà tí i dá´ni gbè léhìn Orí eni
Nenhum Orixá abençoa uma pessoa antes de seu Orí

Este oriki não deixa dúvida sobre a suprema importância desta divindade pessoal, inclusive, acima dos outros Orixás! Orí porém, continua sendo um enigma no conhecimento popular do culto.
Traduzindo da língüa Yorubana, Orí significa cabeça, entretanto quando se busca aprofundar algo mais os devotos hesitam, titubeiam, emudecem. Se Orí é a mais importante de todas as divindades, pq este desconhecimento? Principalmente de uma divindade q reside justamente dentro de nós? Pq, de todos os Orixás, Orí é o mais misterioso?
Para responder a esta questao temos de voltar às origens do nosso culto em África. No continente africano o culto, assim como no Candomblé, é iniciático e hermético. Portanto os segredos, fundamentos e a sabedoria do culto está para apenas ser desvelado por seus iniciados ao decorrer de sua carreira religiosa e/ou sacerdotal. Desta forma, os segredos mais profundos e sérios do culto ficavam restritos aos mais altos sacerdotes. Permitindo ao público e aos mais novos iniciados apenas pequenas centelhas desta sabedoria. Para se atingir os mais profundos conhecimentos e sabedoria eram necessários muitos anos de profunda dedicaçao e disponibilidade de transcender sempre os próprios limites. Contudo, atualmente, vive-se na cultura das árvores impacientes q se dedicam a crescer tao apressadamente em detrimento do aprofundamento de suas raízes, e assim, estes profundos conhecimentos foram ficando restritos a um número cada vez menor de sacerdotes. Isto explica o desconhecimento geral deste supremo Orixá! Q é o ponto central do culto afro e afro-brasileiro! Dele depende a nossa existência, nosso sucesso, fracasso, saúde, doença, riqueza, pobreza, plenitude, felicidade. Sem a aprovaçao de Orí nenhum Orixá pode fazer nada pelo seu devoto. Por isso, para nós, Orí é o Orixá mais importante! É o único q nos acompanha na viagem dos mares sem retorno, como descrito no Itan de Ògúndá Méjì.
Voltando às Origens
No princípio dos tempos da Criaçao, Odùdúwà havia criado a Terra, Òṣàlà havia criado o homem, seus braços, pernas, seu corpo, Olórúm lhe insuflou o èmí(respiraçao divina), a vida. Mas Òṣàlà havia se esquecido da cabeça..Òṣàlà não fez a cabeça do Homem. Entao Olórúm pediu à Àjàlà, o oleiro divino, para confeccioná-la. Àjàlà quando foi confeccionar Orí pediu a ajuda de Odú, e assim todos os Odús ajudaram à Àjàlà a confeccionar Orí. E assim nasceu Orí.
Orí é composto da matéria divina dos Odús, misturados em quantidade e organizados segundo a sabedoria de Àjàlà a pedido de Olórúm. Do material (òkè ìpònrí) q Àjàlà utiliza para confeccionar Orí se constitui èwò (tabu) para quem possuir esse Orí. E assim se determina as interdiçoes alimentares dos indivíduos, pois, comer do próprio material de q foi constituído, caracteriza ofensa séria à matriz da qual foi criado.
Todo o homem quando vai para o Aiyé, invariavelmente, deve passar na oficina de Àjàlà e escolher o seu Orí. Esta escolha se chama Kàdárà, oportunidade e circunstância, e ao fazê-la, está determinando sua natureza e destino.
Este momento ocorre da seguinte forma: A alma se ajoelha(posiçao fetal) diante dos pés de Olórúm (O Criador) e entao lhe faz um pedido - Àkùnlé yàn - pedido esse q estará relacionando ao seu desejo de crescimento moral e espiritual. Entao Olórúm lhe fixa o destino - Àyàn mó Ipín - q Orí deverá seguir, em q geralmente atende aos desejos do próprio Olórúm e e às necessidades das restituiçoes q Orí deve cumprir. E entao recebe - Àkùn légbà - as circunstâncias q possibilitarao os acontecimentos, geralmente ligado às questoes de tempo/espaço, meio e todo o entorno necessário ao melhor cumprimento do destino.
Neste momento a alma recebe os seus èwós (tabus), interdiçoes alimentares, de vestuário, de açao, etc.
Afirma compromisso com o seu ancestral e tutor espiritual (Orixá). Afirma compromisso com o Bàbá Egún (Pai espírito) responsável pelo ìpònrí ancestral terreno q formou o seu corpo material, e q zela pelo desenvolvimento da família a q Orí fará parte. Todos os contratos são firmados e/ou reafirmados diante de Olórúm e de Orúnmilá, e à medida q o são o destino se lhe vai fixando.
Entao Orí se dirige à Àkàsò (a fronteira entre Orúm-plano espiritual, e Aiyé-plano físico) e pede passagem à Oníbodè (o porteiro), q lhe interrogará o q fará no Aiyé, Orí lhe contará e mais uma vez se fixará nele o seu destino.
ORÍ - A fisiologia divina
Orí entao descerá e ocupará o seu lugar no Orí do corpo criado, através da chamada "moleira", abertura no crânio do bebê q irá se fechando conforme se desenvolve ao longo dos anos, onde se dá a "armadilha para Orí", uma vez encerrado lá Orí somente voltará a se libertar do corpo na última expiraçao, pela boca.
A princípio Orí assentar-se-á no cérebro (opolo) daquele corpo, onde comandará Orí Òde (cabeça externa).
  • ORÍ ÒDE - a cabeça externa caracteriza-se pela cabeça física (crânio, cérebro, sistema nervoso central, olhos, ouvidos, etc) e também pela personalidade e intelecto q resultará da interaçao daquele corpo com Orí Innú (cabeça interna), a cultura local onde se desenvolverá o indivíduo, e o aprendizado q receberá desde o seu nascimento. Ou seja, Orí òde é, além da cabeça física, a nossa pessoa como nós a conhecemos e como os outros a conhecem. É o mecanismo criado por Orí innú para lidar com o mundo exterior. Orí Òde é o nosso "eu exterior".
  • ORÍ INÚ - a cabeça interna, é a nossa personalidade divina, ou nosso "eu verdadeiro", ou nosso "eu supremo ou superior". Em resumo, nossa alma.
Abaixo de Orí inú reside Elénìnìí (o opositor de Orí), no cerebelo (ipakó), responsável pelo esquecimento de Orí de sua missao, aquele q o vem atrapalhar a realizar, cumprir sua missao para com Olórúm e a Criaçao, conforme descrito no Itan do Odú Irosún Méjì. Este, constitui o último nó para a transcendência de Orí innú, e o cumprimento de sua missao original.
Ainda existe Ipín jeun - o estômago, e obo ati oko - os órgaos sexuais, q são os outros nós q Orí innú deve superar: medo, desejo, ambiçao, vaidade, ciúme, ira, egoísmo, etc.
Orín inú ainda se divide em:
  • Orí aperé: o caminho predestinado, fenômeno narrado acima. O destino do indivíduo vem escrito em sua cabeça. "sua cabeça, sua sentença!"
  • Aparí innú: o caráter (ìwà), a personalidade divina. Q é a essência de Orí innú, a alma, e sua missao original. É através do desenvolvimento de Ìwà Pèlé (caráter reto, honesto, puro, bom) q Orí chegará à sua transcendência última! Enfim, como descreve o Odú Ogbè-Ègùndá: "Ìwà nikàn l´ó sòro o" " Caráter é tudo o que se precisa". Ìwà Pèlé (caráter reto) é o que conduzirá Orí innú até o Òrun rere (plano espiritual dos Orixás), em caráter definitivo.
Assim sabemos que nossa divindade pessoal é Orí innú ( cabeça interna-alma), responsável pelo nosso destino e felicidade. Q o nosso Orixá (orí- o primeiro) é o tutor espiritual de nosso Orí innú, mas q só poderá ajudar-nos se Orí o permitir. Q em nosso Orí innú reside o nosso Odú (destino) e somente através de Orí e Odú podemos transmutar o nosso destino, e assegurar o cumprimento da missao confiada por Olódùmarè. Q devemos nos resguardar de Elénìnìí, o inimigo de nossa missao e alma, aquele q pode nos trazer sofrimentos. E q nossa verdadeira essência, q devemos buscar, reside em Orí innú (cabeça interna-alma) e não em nosso Orí òde (cabeça externa-personalidade) q é tao somente o veículo de Orí innú aqui no Aiyé.
E, o mais importante: a missao maior de Orí innú, à qual cabe ao nosso Orixá ajudar-nos, é o desenvolvimento de Ìwà Pèlé (caráter reto, bom), nosso passaporte para o encontro definitivo com Olórun!!
Orí o!!
Ire o!

Ọ̀ṣun - Oxum


Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun, nome de um rio em Oṣogbô,região da Nigéria, em Ijeṣá. É ele considerado a morada mítica da Orixá. Apesar de ser comum a associação entre rios e Orixás femininos da mitologia africana, Ọ̀ṣun é destacada como a dona da água doce e, por extensão, de todos os rios. Portanto seu elemento é a água em discreto movimento nos rios, a água semiparada das lagoas não pantanosas, pois as predominantemente lodosas são destinadas à Nanã e, principalmente as cachoeiras são de Ọ̀ṣun, onde costumam ser-lhe entregues as comidas rituais votivas e presentes de seus filhos-de-santo.
Ọ̀ṣun domina os rios e as cachoeiras, imagens cristalinas de sua influência: atrás de uma superfície aparentemente calma podem existir fortes correntes e cavernas profundas.
Ọ̀ṣun é conhecida por sua delicadeza. As lendas adornam-na com ricas vestes e objetos de uso pessoal Orixá feminino, onde sua imagem é quase sempre associada a maternidade, sendo comum ser invocada com a expressão "Mamãe Ọ̀ṣun". Gosta de usar colares, jóias, tudo relacionado à vaidade, perfumes, etc.
Filha predileta de Òṣàlà e Yèmọnja. Nos mitos, ela foi casada com Ọ̀ṣọ́ọ̀si, a quem engana, com Ṣàngó, com Ògún, de quem sofria maus tratos e Ṣàngó a salva.
Seduz Ọbalúwaìye, que fica perdidamente apaixonado, obtendo dele, assim, que afaste a peste do reino de Ṣàngó. Mas Ọ̀ṣun é considerada unanimente como uma das esposas de Ṣàngó e rival de Iansã e Òbá.
Segunda mulher de Ṣàngó, deusa do ouro (na África seu metal era o cobre), riqueza e do amor, foi rainha em Ọyọ, sendo a sua preferida pela jovialidade e beleza.
À Ọ̀ṣun pertence o ventre da mulher e ao mesmo tempo controla a fecundidade, por isso as crianças lhe pertencem. A maternidade é sua grande força, tanto que quando uma mulher tem dificuldade para engravidar, é à Ọ̀ṣun que se pede ajuda. Ọ̀ṣun é essencialmente o Orixá das mulheres, preside a menstruação, a gravidez e o parto. Desempenha importante função nos ritos de iniciação, que são a gestação e o nascimento. Orixá da maternidade, ama as crianças, protege a vida e tem funções de cura.
Ọ̀ṣun mostrou que a menstruação, em vez de constituir motivo de vergonha e de inferioridade nas mulheres, pelo contrário proclama a realidade do poder feminino, a possibilidade de gerar filhos.
Fecundidade e fertilidade são por extensão, abundância e fartura e num sentido mais amplo, a fertilidade irá atuar no campo das idéias, despertando a criatividade do ser humano, que possibilitará o seu desenvolvimento. Ọ̀ṣun é o orixá da riqueza - dona do ouro, fruto das entranhas da terra. É alegre, risonha, cheia de dengos, inteligente, mulher-menina que brinca de boneca, e mulher-sábia, generosa e compassiva, nunca se enfurecendo. Elegante, cheia de jóias, é a rainha que nada recusa, tudo dá. Tem o título de iyalodê entre os povos Yoruba: aquela que comanda as mulheres na cidade, arbitra litígios e é responsável pela boa ordem na feira.
Ọ̀ṣun tem a ela ligado o conceito de fertilidade, e é a ela que se dirigem as mulheres que querem engravidar, sendo sua a responsabilidade de zelar tanto pelos fetos em gestação até o momento do parto, onde Yèmọnja ampara a cabeça da criança e a entrega aos seus Pais e Mães de cabeça. Ọ̀ṣun continua ainda zelando pelas crianças recém-nascidas, até que estas aprendam a falar.
É o orixá do amor, Ọ̀ṣun é doçura sedutora. Todos querem obter seus favores, provar do seu mel, seu encanto e para tanto lhe agradam oferecendo perfumes e belos artefatos, tudo para satisfazer sua vaidade. Na mitologia dos orixás ela se apresenta com características específicas, que a tornam bastante popular nos cultos de origem negra e também nas manifestações artísticas sobre essa religiosidade. O orixá da beleza usa toda sua astúcia e charme extraordinário para conquistar os prazeres da vida e realizar proezas diversas. Amante da fortuna, do esplendor e do poder, Ọ̀ṣun não mede esforços para alcançar seus objetivos, ainda que através de atos extremos contra quem está em seu caminho. Ela lança mão de seu dom sedutor para satisfazer a ambição de ser a mais rica e a mais reverenciada. Seu maior desejo, no entanto é ser amada, o que a faz correr grandes riscos, assumindo tarefas difíceis pelo bem da coletividade. Em suas aventuras, este orixá é tanto uma brava guerreira, pronta para qualquer confronto, como a frágil e sensual ninfa amorosa. Determinação, malícia para ludibriar os inimigos, ternura para com seus queridos, Ọ̀ṣun é, sobretudo a deusa do amor.
O Orixá amante ataca as concorrentes, para que não roubem sua cena, pois ela deve ser a única capaz de centralizar as atenções. Na arte da sedução não pode haver ninguém superior a Ọ̀ṣun. No entanto ela se entrega por completo quando perdidamente apaixonada afinal o romantismo é outra marca sua. Da África tribal à sociedade urbana brasileira, a musa que dança nos terreiros de espelho em punho para refletir sua beleza estonteante é tão amada quanto à divina mãe que concede a valiosa fertilidade e se doa por seus filhos. Por todos seus atributos a belíssima Ọ̀ṣun não poderia ser menos admirada e amada, não por acaso a cor dela é o reluzente amarelo ouro, pois como cantou Caetano Veloso, "gente é pra brilhar, mas Ọ̀ṣun é o próprio brilho em orixá.
A face de Ọ̀ṣun é esperada ansiosamente por sua mãe, que para engravidar leva ebó (oferenda) ao rio. E tal desespero não é o de Yèmọnja ao ver sua filhinha sangrar logo após nascer. Para curá-la a mãe mobiliza Ògún, que recorre ao curandeiro Ọ̀sónyìn, afinal a primeira e tão querida filha de Yèmọnja não podia morrer. Filha mimada, Ọ̀ṣun é guardada por Ọrúnmilà, que a cria.
Nanã é a matriarca velha, ranzinza, avó que já teve o poder sobre a família e o perdeu, sentindo-se relegada a um segundo plano. Yèmọnja é a mulher adulta e madura, na sua plenitude. É a mãe das lendas - mas nelas, seus filhos são sempre adultos. Apesar de não ter a idade de Òṣàlà (sendo a segunda esposa do Orixá da criação, e a primeira é a idosa Nanã), não é jovem. É a que tenta manter o clã unido, a que arbitra desavenças entre personalidades contrastantes, é a que chora, pois os filhos adultos já saem debaixo de sua asa e correm os mundos, afastando-se da unidade familiar básica.
Para Ọ̀ṣun, então, foi reservado o posto da jovem mãe, da mulher que ainda tem algo de adolescente, coquete, maliciosa, ao mesmo tempo em que é cheia de paixão e busca objetivamente o prazer. Sua responsabilidade em ser mãe se restringe às crianças e bebês.Começa antes, até, na própria fecundação, na gênese do novo ser, mas não no seu desenvolvimento como adulto. Ọ̀ṣun também tem como um de seus domínios, a atividade sexual e a sensualidade em si, sendo considerada pelas lendas uma das figuras físicas mais belas do panteão místico Yorubano.
Sua busca de prazer implica sexo e também ausência de conflitos abertos - é dos poucos Orixás Yorubas que absolutamente não gosta da guerra.
Tudo que sai da boca dos filhos da Ọ̀ṣun deve ser levado em conta, pois eles têm o poder da palavra, ensinando feitiços ou revelando presságios.
Desempenha importante papel no jogo de búzios, pois à ela quem formula as perguntas que Èṣù responde.
No Candomblé, quando Ọ̀ṣun dança traz na mão uma espada e um espelho, revelando-se em sua condição de guerreira da sedução. Ela se banha no rio, penteia seus cabelos, põe suas jóias e pulseiras, tudo isso num movimento lânguido e provocante.
Ọ̀ṣun
Caracteristicas
AnimaisPomba Rola.
BebidaChampanhe
ChakraFrontal
Comidas
CorAmarelo (Em algumas casas: Azul)
Data Comemorativa8 de dezembro
Dia da SemanaSábado
ElementoÁgua doce
EssênciasLírio, rosa.
Fio de ContasCristal azul. (Em algumas casas: Amarelo)
FloresLírio, rosa amarela.
Incompatibilidadesabacaxi, barata
InstrumentoAbebê
MetalOuro
Numero5
OduÒSE MEJI
PedrasTopázio (amarelo e azul).
PlanetaVênus (Lua)
Ponto de Forçacachoeiras, rios ou nascentes
SaudaçãoEri YèYé Ó!
SaúdeÓrgãos reprodutores (femininos), coração.
SímboloCoração ou cachoeira, Abebe
SincretismoNossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora das Cabeças, Nossa Senhora de Nazaré.
Folhas
Qualidades
  • Yèyé MORIN ou IBERIN (feminina e elegante)
  • Yèyé Ipetu deve ser Ọya Petu.
  • Ọ̀ṣun POPOLÓKUM (que não desce sobre a cabeça de suas filhas)
  • Yèyé OLÓKÒ (vive nas florestas)
  • Yèyé Ipóndà A mãe de Lógunẹde, orixá menino que compartilha dos seus axés. Ambos dançam ao som do ritmo ijexá, toque que recebe o nome de sua região de origem. Usa um abebé nas mãos, uma alfange, por ser guerreira, e um ofá dourado, por sua ligação com Ọ̀ṣọ́ọ̀si. É a verdadeira Ọ̀ṣun Ijeṣa que veio de Ijesa ou de Ipondá. Vive no mato com o marido, veste-se de amarelo ouro. E desconfiada, astuta, observadora, intuitiva.
  • Yèyé Ònírá Caminha com Ọya Ònírá, com quem muitas vezes é confundida.
  • Yèyé Okè é, provavelmente, a mesma que Yèyé Loke, tipo muito guerreiro.
  • Yèyé OGA é uma òsun velha e rabugenta.
  • Ọ̀ṣun Karé é um tipo de òsun mais velha, autoritária, guerreira e agressiva.
  • Ọ̀ṣun ABALÔ (Agba ilu) é uma velha òsun, a mais idosa de todas, e chefe das mulheres. Maternal, avó, amorosa é uma mulher que tem numerosos filhos e netos. Mas é bastante severa e autoritária. Usa azul claro. E abèbé
  • Ọ̀ṣun Òpàrà seria a mais jovem das Òsun, e um tipo guerreira que acompanha Ògún (ou Sàngó) vivendo com ele pelas estradas; dança com ele quando se manifestam, juntos numa festa, leva uma espada na mão e pode vestir-se de cor de rosa.
  • Ọ̀ṣun Ọṣogbò é uma òsun muito jovem e vaidosa, que usa colares de contas de louça amarelo claro.
  • Ọ̀ṣun Ìyanlá ou Àyála (a avó, que foi mulher de Ògún )
  • Ọ̀ṣun Ijùmú Com estreita ligação com as feiticeiras Iyámi-Ajẹ́, considerada a rainha de todas as Oxuns. Temida pela suas brigas e vinganças
  • Ajagura, outra òsun guerreira que leva espada, jovem, casada com Aganju, rival de Yasan. Representa um tipo semelhante a Apará; Apara parece, porém mais agressiva e orgulhosa.
  • Yèyé odo é a òsun das fontes; talvez seja a mesma que íyá mi Odo ou Iya Nodo, um tipo Yemánjá.
  • Ọ̀ṣun iya omi é a òsun saudada no siré, também idosa. É aquela que faz as perguntas a Esu no jogo divinatório de Ifá.
  • Éwuji é uma Ọ̀ṣun maternal e generosa, saudada no pàdé.
Batuque
  • Ọxum Docó - matriarca e idosa. (sincretizada como Nossa Senhora Aparecida) (Nação Batuque)
  • Ọxum Panda - moça, coquete e vaidosa (sincretizada como Nossa Senhora da Conceição)(Nação Batuque)
  • Ọxum Demun - entre Pandá e Docô (meia idade - adjuntó somente com Ọ̀sónyìn) (Nação Batuque)
  • Ọxum Panda Ibeji - Ọ̀ṣun criança (Nação Batuque)
Sincretismos
Nossa Senhora da Conceição
Nossa Senhora Aparecida
Atribuições
Ela estimula a união matrimonial, e favorece a conquista da riqueza espiritual e a abundância material. Atua na vida dos seres estimulando em cada um os sentimentos de amor, fraternidade e união.
Características dos filhos de Ọ̀ṣun
Os filhos de Ọ̀ṣun amam espelhos, jóias caras, ouro, são impecáveis no trajar e não se exibem publicamente sem primeiro cuidar da vestimenta, do cabelo e, as mulheres, da pintura.
As pessoas de Ọ̀ṣun são vaidosas, elegantes, sensuais, adoram perfumes, jóias caras, roupas bonitas, tudo que se relaciona com a beleza.
Talvez ninguém tenha sido tão feliz para definir a filha de Ọ̀ṣun como o pesquisador da religião africana, o francês Pierre Verger, que escreveu: "o arquétipo de Ọ̀ṣun é das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes e vestimentas caras. Das mulheres que são símbolo do charme e da beleza. Voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que as de Iansã. Elas evitam chocar a opinião publica, á qual dão muita importância. Sob sua aparência graciosa e sedutora, escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social".
Os filhos de Ọ̀ṣun são mais discretos, pois, assim com apreciam o destaque social, temem os escândalos ou qualquer coisa que possa denegrir a imagem de inofensivos, bondosos, que constroem cautelosamente. A imagem doce, que esconde uma determinação forte e uma ambição bastante marcante.
Os filhos de Ọ̀ṣun têm tendência para engordar; gostam da vida social, das festas e dos prazeres em geral. Gostam de chamar a atenção do sexo oposto.
O sexo é importante para os filhos de Ọ̀ṣun. Eles tendem a ter uma vida sexual intensa e significativa, mas diferente dos filhos de Iansã ou Ògún. Representam sempre o tipo que atrai e que é, sempre perseguido pelo sexo oposto. Aprecia o luxo e o conforto, é vaidoso, elegante, sensual e gosta de mudanças, podendo ser infiel. Despertam ciúmes nas mulheres e se envolvem em intrigas.
Na verdade os filhos de Ọ̀ṣun são narcisistas demais para gostarem muito de alguém que não eles próprios, mas sua facilidade para a doçura, sensualidade e carinho pode fazer com que pareçam os seres mais apaixonados e dedicados do mundo. São boas donas de casa e companheiras.
São muito sensíveis a qualquer emoção, calmos, tranqüilos, emotivos, normalmente têm uma facilidade muito grande para o choro.
O arquétipo psicológico associado a Ọ̀ṣun se aproxima da imagem que se tem de um rio, das águas que são seu elemento; aparência da calma que pode esconder correntes, buracos no fundo, grutas tudo que não é nem reto nem direto, mas pouco claro em termos de forma, cheio de meandros.
Faz parte do tipo, uma certa preguiça coquete, uma ironia persistente, porém discreta e, na aparência, apenas inconseqüente. Pode vir a ser interesseiro e indeciso, mas seu maior defeito é o ciúme. Um dos defeitos mais comuns associados à superficialidade de Ọ̀ṣun é compreensível como manifestação mais profunda: seus filhos tendem a ser fofoqueiros, mas não pelo mero prazer de falar e contar os segredos dos outros, mas porque essa é a única maneira de terem informações em troca.
É muito desconfiado e possuidor de grande intuição que muitas vezes é posta à serviço da astúcia, conseguindo tudo que quer com imaginação e intriga. Os filhos de Ọ̀ṣun preferem contornar habilmente um obstáculo a enfrentá-lo de frente. Sua atitude lembra o movimento do rio, quando a água contorna uma pedra muito grande que está em seu leito, em vez de chocar-se violentamente contra ela, por isso mesmo, são muito persistentes no que buscam, tendo objetivos fortemente delineados, chegando mesmo a ser incrivelmente teimosos e obstinados.
Entretanto, ás vezes, parecem esquecer um objetivo que antes era tão importante, não se importando mais com o mesmo. Na realidade, estará agindo por outros caminhos, utilizando outras estratégias.
Ọ̀ṣun é assim: bateu, levou. Não tolera o que considera injusto e adora uma pirraça. Da beleza à destreza, da fragilidade à força, com toque feminino de bondade
Lendas de Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun
Como Ọ̀ṣun conseguiu participar das reuniões dos Orixás Masculinos
Logo que todos os Orixás chegaram à terra, organizavam reuniões das quais mulheres não podiam participar. Ọ̀ṣun, revoltada por não poder participar das reuniões e das deliberações, resolve mostrar seu poder e sua importância tornando estéreis todas as mulheres, secando as fontes, tornando assim a terra improdutiva. Ọlọ́run foi procurado pelos Orixás que lhe explicaram que tudo ia mal na terra, apesar de tudo que faziam e deliberavam nas reuniões. Ọlọ́run perguntou a eles se Ọ̀ṣun participava das reuniões, foi quando os Orixás lhe disseram que não. Explicou-lhes então, que sem a presença de Ọ̀ṣun e do seu poder sobre a fecundidade, nada iria dar certo. Os Orixás convidaram Ọ̀ṣun para participar de seus trabalhos e reuniões, e depois de muita insistência, Ọ̀ṣun resolve aceitar. Imediatamente as mulheres tornaram-se fecundas e todos os empreendimentos e projetos obtiveram resultados positivos. Ọ̀ṣun é chamada Iyalodê (Iyáláòde), título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre as mulheres da cidade.
Como Ọ̀ṣun criou o Candomblé
Foi de Ọ̀ṣun a delicada missão dada por Ọlọ́run de religar o orum (o céu) ao aiê (a terra) quando da separação destes pela displicência dos homens. Tamanho foi o aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que Ọ̀ṣun veio ao aiê (a terra) prepará-los para receber os deuses em seus corpos. Juntou as mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de Ecodidé (um pássaro sagrado), enfeitou seus colos com fios de contas coloridas, seus pulsos com idés (pulseiras), enfim as fez belas e prontas para receberem os orixás. E eles vieram. Dançaram e dançaram ao som dos atabaques e xequerês. Para alegria dos orixás e dos humanos estava inventado o Candomblé.
Ọ̀ṣun é destemida diante das dificuldades enfrentadas pelos seus
  • Ela usa sua sensualidade para salvar sua comunidade da morte. Dança com seus lenços e o mel, seduzindo Ògún até que ele volte a produzir os instrumentos para a agricultura. Assim a cidade fica livre da fome e miséria.
  • Ọ̀ṣun enfrenta o perigo quando Ọlọ́run, Deus supremo, ofendido pela rebeldia dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se abatam sobre o aiê (a Terra). Transformada em pavão, Ọ̀ṣun voa até o deus maior levando um ebó, para suplicar ajuda. No caminho ela não hesita em repartir os ingredientes da oferenda com o velho Oṣàlúfọ́n e as crianças que encontra. Mesmo tornando-se abutre pelo calor do sol, que lhe queima, enegrecendo as penas, ela alcança a casa de Ọlọ́run. E consegue seu objetivo pela comoção de Ọlọ́run.
  • Òṣàlà tem seu cajado jogado ao mar e a perna ferida por Iansã. Ọ̀ṣun vem para ajudar o velho, curando-o e recuperando seu pertence. Ela é adorada por Òṣàlà.
  • Com grande compaixão, Ọ̀ṣun intercede junto a Ọlọ́run para que ele ressuscite Ọbalúwaìye, em troca do doce mel da bela orixá.
  • E ela garante a vida alheia também ao acolher a princesa Ala, grávida, jogada ao rio por seu pai. Ọ̀ṣun cuida da recém-nascida, a querida Ọya.
A Riqueza de Ọ̀ṣun
Com suas jóias, espelhos e roupas finas, Ọ̀ṣun satisfaz seu gosto pelo luxo. Ambiciosa, ela é capaz de geniais estratagemas para conseguir êxito na vida. Vai à frente da casa de Òṣàlà e lá começa a fazer escândalo, caluniando-o aos berros, até receber dele a fortuna desejada para então se calar. E assim Ọ̀ṣun torna-se "senhora de tanta riqueza como nenhuma outra Yabá (Orixá feminino) jamais o fora".
Os Amores de Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun luta para conquistar o amor de Ṣàngó e quando o consegue é capaz de gastar toda sua riqueza para manter seu amado.
Ela livra seu querido Ọ̀ṣọ́ọ̀si do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para que se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu.
Ọ̀ṣun provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu amor: Ṣàngó e Ògún, ambos guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por ela. Ṣàngó é seu marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a trata bem, o outro se sente no direito de intervir e conquistá-la. Afinal Ọ̀ṣun quer ser amada e todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas finas, jóias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá do amor. Como esposa de Ṣàngó, ao lado de Òbá e Ọya, Ọ̀ṣun é a preferida e está sempre atenta para manter-se a mais amada.
Como Ọ̀ṣun conseguiu o segredo do Jogo de Búzios
Ọ̀ṣun queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Èṣù e este não queria lhe revelar. Ọ̀ṣun foi procurá-lo. Ao chegar perto do reino de Èṣù, este desconfiado perguntou-lhe o que queria por ali, que ela deveria embora e que ele não a ensinaria nada. Ela então o desafia a descobrir o que tem entre os dedos. Èṣù se abaixa para ver melhor e ela sopra sobre seus olhos um pó mágico que ao cair nos olhos de Èṣù o cega e arde muito. Èṣù gritava de dor e dizia;
- Eu não enxergo nada, cadê meus búzios?
Ọ̀ṣun fingindo preocupação, respondia:
- Búzios? Quantos são eles?
- Dezesseis, respondeu Èṣù, esfregando os olhos.
- Ah! Achei um, é grande!
- É Okanran, me dê ele.
- Achei outro, é menorzinho!
- É Eta-Ogundá, passa pra cá...
E assim foi até que ela soube todos os segredos do jogo de búzios, Ifá o Orixá da adivinhação, pela coragem e inteligência da Ọ̀ṣun, resolveu-lhe dar também o poder do jogo e dividí-lo com Èṣù.
Conta-nos outra lenda, que para aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, Ọ̀ṣun, foi procurar Èṣù. Èṣù, muito matreiro, falou à Ọ̀ṣun que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Ọ̀ṣun sobre os domínios de Èṣù durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo, em troca ele a ensinaria.
E, assim foi feito, durante sete anos Ọ̀ṣun foi aprendendo a arte da adivinhação que Èṣù lhe ensinará e conseqüentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Èṣù. Findando os sete anos, Ọ̀ṣun e Èṣù, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Ọ̀ṣun resolveu ficar em companhia desse Orixá. Em um belo dia, Ṣàngó que passava pelas propriedades de Èṣù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Ọ̀ṣun. Foi-se a tal ponto que Ṣàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Ọyọ. Ọ̀ṣun rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èṣù. Ṣàngó então irritado e contrariado, seqüestrou Ọ̀ṣun e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo. Èṣù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência. Chegando nas terras de Ṣàngó, Èṣù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Ọyọ, da mais alta torre. Lá estava Ọ̀ṣun, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei. Èṣù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Ọrúnmilà, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Ọ̀ṣun desvencilhar-se dos domínios de Ṣàngó. Èṣù, através da magia pode fazer chegar as mãos de sua companheira a tal poção. Ọ̀ṣun tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Èṣù para sua morada.
Adurá de Ọ̀ṣun
Osun mo pè ó o!
Oxun eu te chamo
N'ò pè o s'Ikù enì kankan
Não te chamo por causa da morte,
Bénì n'ò s'árùn enì kankan
Não te chamo por causa da doença de alguém.
Mo pè o nìnì owó
Eu te chamo para que tenhamos dinheiro.
Mo pè o nìnì omó
Eu te chamo para que tenhamos filhos.
Mo pè o sì nìnì alàfìa
Eu te chamo para que tenhamos saúde.
Mo pè o sì oro
Eu te chamo para que tenhamos uma vida serena.
Kì awà mà rijà amì o
Para que não sejamos vitimados pela ira das águas.
Odódùn nì a mì orógbó
Dizem que anualmente há orobôs na feira.
Odódùn nì mì obì lorì atè o
Dizem que anualmente há obís novos na feira.
Odódùn nì kì wòn mà rì wà o
Que as pessoas nos vejam todo o ano.
Bi a sè, éyì jù bayì lò, nì àmódùn
Do mesmo modo que fizemos tua festa, que possamos fazer outra melhor, no próximo ano.
Ósùn só wà, kì o màá sì wàbalà lárìn awà omó ré
Oxun, nos proteja, para que não haja problemas entre nós, teus filhos.
Kì ilé mà jó wà
Para que haja paz em nosso lar.
Kì óna mà nà wà o
Que nossos objetivos não se voltem contra nós.
Pèsè asè fùn wà o
Dá-nos axé!
Enì asè amódì arà
À quem estiver doente,
Fùn nì alàfìa o
Dá saúde!
Okó obà, adà obà, kì ó mà sà wà lésè o
Que as leis dos homens não sejam infringidas por nós.
Kì awà mà rì ógùn idìlé!
Que não haja problemas em nossa família!
Vocabulário - Yorùbá
ÌPẸ̀TẸ̀  s.,(cer. rit.)   | ìkpêtê  festa ritualística. Festa ritualística oferecida ao Orixá Oxun
ÌPẸ̀TẸ̀  s.,(com. rit.)   | ìkpêtê  comida ritualística. prato da culinária afro-baiana. É feito com inhame, que depois de cortado bem miúdo, é fervido, até ficar como uma massa, que depois é temperada com azeite-de-dendê, cebola, pimenta e camarão.
ỌMỌLỌKUN  Trad. Lit. Filho de Olókun s.,(com. rit.)   | ómólókun  comida ritualística. comida votiva oferendada ao Orixá Oxun.
OSUN  s.   | ossun  fungo
OSUN  s.   | ossun  cogumelo
OSÚN  s., (art. rit.)   | ossún  pó de coloração vermelha. usado na pintura ritual do Ìyáwò extraido da espécie Pterocarpus osun Craib da Família Leguminosae.
Ọ̀ṢÙN  n., div.   | ôxùn  Orixá Oxun. Orixá da fertilidade e guardiã da essência feminina. que guia a gestação a termo.
Ọ̀ṢÙN KARÉ  n., div.   | ôxùn karé  Qualidade ou Avatar do Orixá Oxun
RỌRA YÈYÉ GBÉ MÍ  saud.   | róra iêié guibé mí  saudação ao orixá oxum. Mãe cuidadosa, proteja-me !
RỌRA YÈYÉ Ò  saud.   | róra iêié ô  saudação ao orixá oxum. Mãe cuidadosa, Oh!
RỌRA YÈYÉ Ó FÍ DÉ RÍ ỌMỌN  saud.   | róra iêié ó fí dé rí óman  saudação ao orixá oxum. Mãe cuidadosa, aquela que usa coroa e protege os seus filhos !
Saiba Mais
Umbanda
Mitologia
Referências
  • Sociedade Espiritualista Mata Virgem