A Tríade Musical de Sàngó
Hoje vou escrever sobre três importantíssimos toques da cultura Kétu-Nàgó, aTríade Musical de Sàngó, que são ritmos de atabaques, consagrados ao Rei deOyo e que, devem ser executados subsequentes um ao outro e sem cânticos. Muito embora seja uma tríade (que alude ao número três), dois desses toques estão sendo esquecidos pela maioria dos Ògáns, Babalòrìsàs e Ìyálòrìsàs.
Primeiramente, quero chamar atenção para um fato. A maioria dos Deuses Africanos, possuí um toque que lhe pertence, sendo esse usado somente para ele e para nenhuma outra Divindade é, por exemplo, o caso do Ìgbín de Òsálá. Mas no caso do temido Sàngó, são três os toques que lhe pertencem (na verdade há outros, mas também executados para mais alguma Deidade, à exemplo do Bàtá, razão pela qual vou me ater somente a tríade). Isso mostra-nos a importância que esse Òrìsà confere ao som do tambor e, obviamente ao tambor propriamente dito.
Isso é corroborado ainda, ao pensarmos que, em algumas casas, Sàngó é considerado o Òrìsà dono do som (basta dizer que, o som que brada dos trovões, é uma das principais hierofanias - manifestação do sagrado - de Sàngó). Dos Deuses cultuados no Brasil, muito provavelmente, ele é um dos poucos, senão o único que, em vida no aye, tocou tambor, no caso o Bata (não confundir o tambor Bata, com o ritmo Bata). Há diversos Ìtan Yorùbá (histórias africana), que explicam a ligação de Sàngó, com o Tambor Bata.
Sàngó, sem dúvidas, é um dos Òrìsàs mais representado por meio do som. Além dos toques do atabaque, é invocado pelo som da chuva, emitido pelo Sèré, devidamente preparado pelos seus Sacerdotes. Tudo isso evidencia, quão importantes são os toques de Sàngó e quão importante são os toques paraSàngó. Algumas histórias, narram que antes de partir à guerra, Sàngó, dançava freneticamente ao som dos tambores, potencializando seus poderes, mantendo uma ligação da musica com o universo sacro. Destarte, toca-se muito paraSàngó, correto? Errado! (errado na crença de que isso ocorra e não na constatação de que isso deveria sim ocorrer). Por incrível que possa parecer, muito embora Sàngó goste do som do tambor e, nesse aspecto, refiro-me somente ao som do tambor (solo – sem cânticos), quase não escutamos mais o solo da sua tríade musical.
Em verdade, duas coisas estão ocorrendo de forma muito comum sobre os toques de Sàngó. A primeira é que, quase não se “sola” mais o Alujá. Quando digo “solar”, digo Atabaques (Hun, Hunpi e Hunlé), mais o Agogo (no caso de festas, como as de Sàngó, os atabaques são acompanhados pelo Sèré, por exemplo) – Sem cânticos e, é claro, com as palmas dos devotos que estão presentes para render homenagem ao Rei, proferindo a expressão Kawoo Kabiyesi Le!
A segunda constatação negativa que observamos é que, quando há o solo doAlujá, dificilmente o mesmo é acompanhado pelos seus dois toques contíguos. Nesse aspecto, é salutar destacar que, a Tríade de Toques de Sàngó é solada e, não cantada! Recordam-se do valor que Sàngó confere ao som do tambor? Vale destacar, igualmente que, o Alujá de Sàngó, é essencialmente um toque com poder evocativo (o mesmo ocorre com o Agéré, além, obviamente do Adahun) – outro valor intrínseco deste toque.
Muitos devem estar se perguntando, mas e as cantigas de Alujá? Sim, são dezenas, todas lindas. Mas nessa postagem, não estou me referindo unicamente ao Alujá e, sim, ao conjunto de toques que está atrelado ao mesmo e, que não são cantados, somente tocados.
Quando tocamos Alujá (solo), estamos evocando os poderes do Deus (lembram-se de que, antes de partir para guerra, Sàngó dançava para potencializar seus poderes?) e, principalmente começando pelo início, pelo início de uma história. Toda cantiga conta uma história, seja boa, seja ruim. No caso do solo de toques da Tríade de Sàngó, à exemplo dos cantos, também estamos contando uma história.
A relação dos três toques, executados um subseqüentemente ao outro não é ao acaso e, sim intencional. Os três toques isoladamente não refletem a importância dos três concomitantes. Afirmo isso, pois somente os três toques executados subsequentemente, conseguem contar uma parte do início da vida real de Sàngóe, se tocados em momentos distintos, não refletem o mesmo. Um Ìtan Yorùbádiscorre que:
“Em um determinado reinado, Sàngó ainda pobre, tocava freneticamente seu tambor, fazendo com que todos da cidade ficassem lhe ouvindo, admirados. No entanto, o então rei da cidade havia proibido tal prática. Ao ser comunicado queSàngó estava tocando tambor em seu reinado, o mesmo foi pessoalmente conferir. Diante do virtuosismo de Sàngó, o Rei começou a dançar, deixando sua coroa cair de sua cabeça, sendo então, imediatamente tomada por Sàngó”.
Assim sendo, quero chegar ao ponto de que a Tríade de Sàngó, faz justamente alusão a essa história. O som frenético do alujá, a coroa caindo e Sàngótomando a mesma para si!
Nada no Candomblé é ao acaso e tudo tem sua fundamentação! Espero, sinceramente, ter contribuído um pouco, para a elucidação dos toques do chamado Candomblé Kétu-Nàgó.
Por fim, objetivando ilustrar esse artigo e disseminar esses três importantes toques, compartilho aqui, essa primorosa tríade musical, executada por quatro dos maiores tocadores da atualidade (Gamo da Paz, Iuri Passos, Yomar Asogba e Robson).
Primeiramente, quero chamar atenção para um fato. A maioria dos Deuses Africanos, possuí um toque que lhe pertence, sendo esse usado somente para ele e para nenhuma outra Divindade é, por exemplo, o caso do Ìgbín de Òsálá. Mas no caso do temido Sàngó, são três os toques que lhe pertencem (na verdade há outros, mas também executados para mais alguma Deidade, à exemplo do Bàtá, razão pela qual vou me ater somente a tríade). Isso mostra-nos a importância que esse Òrìsà confere ao som do tambor e, obviamente ao tambor propriamente dito.
Isso é corroborado ainda, ao pensarmos que, em algumas casas, Sàngó é considerado o Òrìsà dono do som (basta dizer que, o som que brada dos trovões, é uma das principais hierofanias - manifestação do sagrado - de Sàngó). Dos Deuses cultuados no Brasil, muito provavelmente, ele é um dos poucos, senão o único que, em vida no aye, tocou tambor, no caso o Bata (não confundir o tambor Bata, com o ritmo Bata). Há diversos Ìtan Yorùbá (histórias africana), que explicam a ligação de Sàngó, com o Tambor Bata.
Sàngó, sem dúvidas, é um dos Òrìsàs mais representado por meio do som. Além dos toques do atabaque, é invocado pelo som da chuva, emitido pelo Sèré, devidamente preparado pelos seus Sacerdotes. Tudo isso evidencia, quão importantes são os toques de Sàngó e quão importante são os toques paraSàngó. Algumas histórias, narram que antes de partir à guerra, Sàngó, dançava freneticamente ao som dos tambores, potencializando seus poderes, mantendo uma ligação da musica com o universo sacro. Destarte, toca-se muito paraSàngó, correto? Errado! (errado na crença de que isso ocorra e não na constatação de que isso deveria sim ocorrer). Por incrível que possa parecer, muito embora Sàngó goste do som do tambor e, nesse aspecto, refiro-me somente ao som do tambor (solo – sem cânticos), quase não escutamos mais o solo da sua tríade musical.
Em verdade, duas coisas estão ocorrendo de forma muito comum sobre os toques de Sàngó. A primeira é que, quase não se “sola” mais o Alujá. Quando digo “solar”, digo Atabaques (Hun, Hunpi e Hunlé), mais o Agogo (no caso de festas, como as de Sàngó, os atabaques são acompanhados pelo Sèré, por exemplo) – Sem cânticos e, é claro, com as palmas dos devotos que estão presentes para render homenagem ao Rei, proferindo a expressão Kawoo Kabiyesi Le!
A segunda constatação negativa que observamos é que, quando há o solo doAlujá, dificilmente o mesmo é acompanhado pelos seus dois toques contíguos. Nesse aspecto, é salutar destacar que, a Tríade de Toques de Sàngó é solada e, não cantada! Recordam-se do valor que Sàngó confere ao som do tambor? Vale destacar, igualmente que, o Alujá de Sàngó, é essencialmente um toque com poder evocativo (o mesmo ocorre com o Agéré, além, obviamente do Adahun) – outro valor intrínseco deste toque.
Muitos devem estar se perguntando, mas e as cantigas de Alujá? Sim, são dezenas, todas lindas. Mas nessa postagem, não estou me referindo unicamente ao Alujá e, sim, ao conjunto de toques que está atrelado ao mesmo e, que não são cantados, somente tocados.
Quando tocamos Alujá (solo), estamos evocando os poderes do Deus (lembram-se de que, antes de partir para guerra, Sàngó dançava para potencializar seus poderes?) e, principalmente começando pelo início, pelo início de uma história. Toda cantiga conta uma história, seja boa, seja ruim. No caso do solo de toques da Tríade de Sàngó, à exemplo dos cantos, também estamos contando uma história.
A relação dos três toques, executados um subseqüentemente ao outro não é ao acaso e, sim intencional. Os três toques isoladamente não refletem a importância dos três concomitantes. Afirmo isso, pois somente os três toques executados subsequentemente, conseguem contar uma parte do início da vida real de Sàngóe, se tocados em momentos distintos, não refletem o mesmo. Um Ìtan Yorùbádiscorre que:
“Em um determinado reinado, Sàngó ainda pobre, tocava freneticamente seu tambor, fazendo com que todos da cidade ficassem lhe ouvindo, admirados. No entanto, o então rei da cidade havia proibido tal prática. Ao ser comunicado queSàngó estava tocando tambor em seu reinado, o mesmo foi pessoalmente conferir. Diante do virtuosismo de Sàngó, o Rei começou a dançar, deixando sua coroa cair de sua cabeça, sendo então, imediatamente tomada por Sàngó”.
Assim sendo, quero chegar ao ponto de que a Tríade de Sàngó, faz justamente alusão a essa história. O som frenético do alujá, a coroa caindo e Sàngótomando a mesma para si!
Nada no Candomblé é ao acaso e tudo tem sua fundamentação! Espero, sinceramente, ter contribuído um pouco, para a elucidação dos toques do chamado Candomblé Kétu-Nàgó.
Por fim, objetivando ilustrar esse artigo e disseminar esses três importantes toques, compartilho aqui, essa primorosa tríade musical, executada por quatro dos maiores tocadores da atualidade (Gamo da Paz, Iuri Passos, Yomar Asogba e Robson).
Sem mais,
Opotun Vinicius
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